segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Os enigmas da mente

Volvido quase um ano, continuo sem conseguir afastar do meu pensamento, o período em que o meu marido esteve doente, particularmente os dois últimos meses. Dou por mim a pensar, em factos que aconteceram e aos quais não dei a devida atenção, por puro desconhecimento. Voltando alguns anos atrás, descobri agora que, quando ele afirmava que já tinha visto um filme recentemente estreado, era um sintoma da doença. O chamado déja-vu. Noutras ocasiões, via um filme a que já tinha assistido como se fosse a primeira vez.
Ainda hoje, me veio à memória um gesto que ele teve para com a nossa neta mais nova. Tinha ela pouco mais de um mês de vida quando ele abriu uma caixa de amêndoas e ofereceu-lhe uma. Na mesma sala estavam os outros nossos netos e os nossos filhos e ele só lhe ofereceu a ela. Será que com esse gesto, ele quis demonstrar o quanto gostava dela e que sabia quem ela era!? Penso que foi também nesse dia que me disse:
- Acho que ela já nos fixa, quando estamos perto dela.
Esta pequena frase, foi para mim um oásis no meio do deserto. Estava completamente apático, ao ponto de nunca mais ter chamado o meu nome, após a operação. Por incrível que pareça foi uma das coisas que mais falta me fez. Ao fim de 35 anos de casamento, depois de ouvirmos, pela enésima vez chamarem-nos pelo nome, a ausência desse chamamento corta-nos o coração. Sentia que ele já tinha partido, mesmo que ainda ali estivesse.
O que será que ele entendia? Será que sabia o quão grave era o seu estado?
Deixou de engolir os comprimidos, mas quando questionado acerca da razão daquela atitude, respondia que não sabia por não os engolia. Penso hoje, que não queria prolongar o seu sofrimento, mas não conseguia explicar o que lhe ia na alma. Quanta dor.....