domingo, 16 de dezembro de 2012

O país certo para nascer.

Nestes tempos que correm, passou a ser habitual ver partir para terras longínquas, os nossos jovens, e não só. A crise financeira que assola o nosso país, obriga-os a procurar trabalho nos mais diversos lugares deste mundo. O programa da RTP, "Portugueses no Mundo", mostra-nos as suas vivências e na maioria das vezes, apesar de estarem bem integrados, nota-se a saudade de Portugal.
Ontem, no programa que fizeram de Fortaleza no Brasil, assisto a um pedido de desculpas de uma portuguesa que assume gostar mais de viver no Brasil do que em Portugal. Quando ouvi, pensei de imediato: que pessoa é esta que prefere o estrangeiro à sua terra Natal? Mas, logo de seguida, escutando as suas palavras, percebi que ela é apenas uma das tantas pessoas que nasceram no país errado. A sua maneira de ser e de estar na vida, é consentânea com a dos brasileiros. Não tem de pedir desculpa, tem apenas de ser feliz.
Gosto imenso de viajar, mas também gosto de regressar ao meu cantinho. Considero desde há décadas que nasci no país certo. Gosto do clima temperado, das mudanças de estação, embora já quase não se dê pela primavera ou pelo outono, do respeito pela privacidade do outro, da alegria q.b. (nem frios como os nórdicos, nem sempre alegres como os brasileiros).
Tenho esperança de que iremos encontrar forma de sair desta crise, e quem sabe, aqueles que foram forçados a deixar a sua terra e que dela guardam saudades possam um dia voltar a habitá-lo e  sentir os cheiros, a luz e os sons do nosso país.

domingo, 23 de setembro de 2012

Violência, sim ou não?

15 de Setembro, foi o dia em que o povo português desceu à rua para dizer basta. Basta de corrupção, basta de apertar o cinto e especialmente basta de impostos. Abaixo o aumento da TSU. Quando vi o convite no Facebook, respondi imediatamente que ía.
Falei acerca do assunto com a minha filha, que nesse dia estava fora de Lisboa. Começou por dizer que não era aconselhável eu ir para aqueles ajuntamentos sozinha e que além disso a manifestação não iria resolver nada, pois com certeza iria ser pacifica e para a coisa resultar era necessário haver violência.Não concordei com ela, pois achava que o que era essencial era mostrar aos governantes e ao mundo que os portugueses estavam fartos. Infelizmente, talvez devido aos nervos, a minha tensão arterial subiu e com bastante pena minha, acabei por não comparecer à chamada.
Durante a tarde o meu filho passou por cá com a família e convidou-me para lanchar. Declinei o convite pois estava realmente indisposta, mas como ficou triste, resolvi fazer apenas companhia. Palavra puxa palavra e acabámos a discutir acerca da manifestação. Argumentou que não tinha qualquer importância eu não ter ido, pois a mesma não iria passar de um passeio de sábado na avenida. Eu contrapus dizendo que se a manifestação fosse grande como eu pressentia isso iria pesar e fazer o governo voltar atrás com o aumento na TSU.
Como até ao dia de hoje, nenhum dos meus filhos admitiu que eu tinha razão, pois mesmo sem violência parte dos objectivos foram conseguidos, resolvi puxar o assunto no nosso almoço de domingo.
Não resultou bem.
Armou-se tal discussão que acabaram por sair zangados comigo e com a ideia errada acerca da forma como vejo a actual situação do nosso país. Para além disso, a minha filha chegou a afirmar que a corrupção e os maus negócios que todos andamos a pagar, são resultado de uma revolução sem sangue (25 de Abril).
Falam que é preciso violência para as coisas mudarem.
O certo é que ainda há pouco tempo, houve uma revolução no Egipto com o sacrifício de  muitas vidas e no entanto a situação em que se encontra agora o povo egípcio é ainda pior. As mulheres que lutaram para fazer valer os seus direitos e que pensaram ir alcançar os seus objectivos, viram os muçulmanos chegar ao poder e são agora alvo de uma maior repressão.
E quem se lembra daquele jovem que em 1994 foi baleado pela policia aquando do buzinão na ponte 25 de Abril e ficou paraplégico?  As portagens continuaram a aumentar e ele é que ficou com a vida lixada. Não ambiciona isso para os meus filhos nem para os meus netos.
Enquanto for possível pressioná-los com manifestações pacificas essa é e será para mim a primeira forma de luta. Ver aquela massa humana unida, faz um membro do governo pensar duas vezes quando se desloca a inaugurações e se torna alvo mais fácil de atingir. Nessas ocasiões é que as pessoas lhes devem fazer frente e se necessário partir para a agressão. Destruir os bens dos outros assalariados como nós que é o que costuma acontecer quando a multidão se descontrola, não me parece justo. A ver, vamos.

domingo, 9 de setembro de 2012

Sofrimento. É bom ou mau?

Cheguei à pouco da missa de 7º dia de duas antigas vizinhas. Faleceram as duas, mãe e filha, num desastre de viação no domingo passado. O filho da mais nova foi criado aqui no prédio e é da idade da minha filha. É um excelente rapaz e resolvi apoiá-lo nestes momentos tão dolorosos. No dia do funeral, ainda não sabia como iria dar a noticia à filha que tem apenas 5 anos. A menina gostava imenso da avó e ficava muitas vezes na sua companhia. Como já passei, 2 vezes por essa situação, aconselhei-o a dar a noticia naturalmente, sem entrar em demasiados pormenores. É preferível contar a verdade às crianças do que tentar enganá-las, sabe-se lá até quando. Tanto os meus filhos, como os meus netos encararam a morte dos avós com uma situação normal. Ao contrário do que pensamos, a morte para eles não tem o mesmo peso negativo, como para nós. Eles não têm noção da real dimensão da perda. Hoje, após a missa, ao falar com ele apercebi-me que a menina reagiu da mesma forma que os meus. Aceitou naturalmente e só não quer é ver os pais tristes. Isso sim, entristece-a. Reflectindo acerca do assunto, apercebo-me que existe em nós um misto de sentimentos que não conseguimos qualificar. Por um lado ficamos contentes por a criança, não sofrer demasiado, mas por outro lado aquela pronta  aceitação deixa-nos a pensar:
- Quanto amor sentirão por nós, avós?
- Será que depois de partirmos, se irão lembrar de nós?
- Sentirão saudades das nossas brincadeiras, dos nossos beijos?
Gostava que as respostas a estas questões, fossem deveras positivas, pois só assim podemos almejar continuarmos vivos para além da morte. Enquanto os familiares e amigos nos recordarem e falarem de nós, continuamos "vivos". Por favor, não se esqueçam de nós.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Perfume e não só..............

Nos primeiros tempos em que fiquei sozinha, tive momentos em que apagava a luz, pensando que talvez se o fizesse conseguisse sentir a tua presença. Sim, porque sempre pensei que continuavas comigo aqui em casa. Há quem se desfaça das roupas, dos objectos pessoais daqueles que partem para não se lembrarem deles. Mas a mim as tuas coisas preenchem-me um pouco o vazio que deixaste. Quando a saudade aperta gosto de tocar as tuas roupas, as chaves que trazias sempre contigo e cheirar o teu perfume.
Se o nosso ADN permanece nos objectos, então permaneces neles.
E o espirito será que partiu ou continua a meu lado? Sou daquelas que não tenho a certeza de nada. Será que sim ou será que não?
Lembras-te quando tocavas no trinco da porta para eu subir mais depressa? Fazia-lo muitas vezes quando eu falava com a vizinha  na entrada do prédio. Era um sinal para que eu soubesse que me aguardavas. Até ela já conhecia o gesto e riamo-nos as duas. Certo é, que uns meses após a tua partida, estando eu à conversa  com ela na soleira da porta, o trinco tocou, a porta abriu e ambas ficámos arrepiadas sem saber o que dizer. Até hoje não sei quem terá aberto a porta, neste prédio onde apenas vivem meia dúzia de gatos pingados.
Hoje, foi diferente mas aconteceu no mesmo sitio. Quando cheguei do trabalho, troquei umas palavras com uma vizinha do prédio ao lado e eis quando o cãozito dela se põe a ladrar de nariz no ar olhando fixamente para a nossa varanda. Olhei, olhei e não vi absolutamente nada que pudesse ter despertado a atenção do animal. Será que eras ou será que não eras?

domingo, 5 de agosto de 2012

O conhecimento está aí.....

Desde há já algum tempo, que quase só vejo programas gravados. Hoje de manhã, domingo, procurei uma das gravações para acompanhar os meus afazeres e dou por mim a ouvir/ver uma Reportagem da Sic, acerca de Safira, uma menina que teve um tumor e que se viu envolvida numa luta que opôs os seus pais à "Justiça".
Os pais não queriam que após o cirurgia a que foi submetida, para a remoção de um tumor, fosse sujeita a tratamentos de quimioterapia, pois na sua opinião, a mesma, traria problemas futuros para a saúde da filha. O IPO pediu ajuda aos tribunais para obrigá-los a comparecer no hospital com a filha. Os pais recusaram sempre, e para que o poder paternal não lhes fosse retirado andaram a fugir de terra em terra. Optaram por um tratamento inovador existente na Alemanha: vacinas anti-tumorais.
Uma das razões para a sua recusa, consistia nas contra indicações que constavam numa das drogas a ser usadas no tratamento. A mesma poderia provocar arritmia cardíaca durante o tratamento e deixar sequelas.

Lembrei-me imediatamente da morte do  meu marido.  Durante estes 22 meses, pensei que a arritmia que o vitimou se deveu aos comprimidos anti-epilépticos que tomava diariamente. Agora fico na dúvida. Será que foi um efeito secundário da quimioterapia oral que tinha feito na semana anterior, pela primeira e última vez. Não tenho a certeza e penso que nunca terei. Sei sim, que nunca me informaram que tal poderia acontecer.

Tenha ou não tirado desta reportagem um dado novo, dou por mim a pensar que a televisão, ao contrário do que muita gente pensa, pode ser um meio de propagação de cultura e conhecimento. Basta saber escolher.
Ao assistir a um filme ou uma série, aprendi hábitos e costumes de outros povos. E perguntar-me-ão para que me serve isso? Direi que, para não afirmar como muita gente:
- Só em Portugal é que isso se acontece...

domingo, 1 de julho de 2012

Amizades de infância

As amizades que nos acompanham desde a infância serão realmente verdadeiras, ou apenas as mantemos por pura perguiça.?
 Analisando friamente a questão, chego à conclusão que algumas das pessoas com quem mantenho amizade há imensos anos, vêm o mundo de uma maneira tão diferente da minha que dificilmente, faríamos amizade hoje em dia. O percurso de vida foi idêntico mas a visão é completamente oposta. A que se deverá tal diferença?
Aos progenitores, talvez!!! Não.
O Miguel Portas era de esquerda e o Paulo Portas é de direita e pelos vistos eram dois irmãos bastante amigos. E se não fossem irmãos, será que seriam amigos???
Ao passar a barreira dos cinquenta e cinco, dou por mim a tentar aproveitar ao máximo o tempo que me resta. Será que é muito, ou será que é pouco?
Lá diz o povo, que quem sabe está calado. Certo mesmo é que se o desperdiçar em discussões que não levam a lado nenhum, ficarei arrependida e daqui a alguns anos serei uma daquelas idosas que se queixam de tudo e de coisa alguma. Haja paciência!!!

domingo, 15 de janeiro de 2012

Incrível

De há um tempo a esta parte, tenho constatado que nada me surpreende.
Quando ouço uma noticia de algo insólito, encolho os ombros e fico completamente insensível à mesma.
Para os que me rodeiam, isso não é encarado como algo estranho, mas o certo é que esta situação me está a incomodar. Sinto que esta  insensibilidade aos acontecimentos inusitados não é "normal" e talvez se deva ao choque porque passei (morte súbita do meu marido)
Lembro-me que durante 19 anos, não chorei a morte de qualquer familiar ou amigo. Faleceu o meu pai, as minhas tias de quem tanto gostava, a minha cunhada que também era uma amiga e tantos outros. Depois de muito refletir cheguei à conclusão que isso era resultado do choque que sofri, quando num acidente de mota, desapareceu um grande amigo com apenas 17 anos  e com quem tinha estado a conversar poucas horas antes.
Depois de o chorar, só voltei a fazê-lo pelo meu marido.
Será que este novo choque me devolveu umas emoções e me roubou outras? Sei lá...
O que sei é que tenho saudades de uma boa surpresa. Ou até de achar incríveis algumas noticias que ouço.
Este marasmo em que nos encontramos presentemente em Portugal, também não ajuda.
 É noticia má, atrás de noticia ruim e uma pessoa habitua-se.