domingo, 23 de setembro de 2012

Violência, sim ou não?

15 de Setembro, foi o dia em que o povo português desceu à rua para dizer basta. Basta de corrupção, basta de apertar o cinto e especialmente basta de impostos. Abaixo o aumento da TSU. Quando vi o convite no Facebook, respondi imediatamente que ía.
Falei acerca do assunto com a minha filha, que nesse dia estava fora de Lisboa. Começou por dizer que não era aconselhável eu ir para aqueles ajuntamentos sozinha e que além disso a manifestação não iria resolver nada, pois com certeza iria ser pacifica e para a coisa resultar era necessário haver violência.Não concordei com ela, pois achava que o que era essencial era mostrar aos governantes e ao mundo que os portugueses estavam fartos. Infelizmente, talvez devido aos nervos, a minha tensão arterial subiu e com bastante pena minha, acabei por não comparecer à chamada.
Durante a tarde o meu filho passou por cá com a família e convidou-me para lanchar. Declinei o convite pois estava realmente indisposta, mas como ficou triste, resolvi fazer apenas companhia. Palavra puxa palavra e acabámos a discutir acerca da manifestação. Argumentou que não tinha qualquer importância eu não ter ido, pois a mesma não iria passar de um passeio de sábado na avenida. Eu contrapus dizendo que se a manifestação fosse grande como eu pressentia isso iria pesar e fazer o governo voltar atrás com o aumento na TSU.
Como até ao dia de hoje, nenhum dos meus filhos admitiu que eu tinha razão, pois mesmo sem violência parte dos objectivos foram conseguidos, resolvi puxar o assunto no nosso almoço de domingo.
Não resultou bem.
Armou-se tal discussão que acabaram por sair zangados comigo e com a ideia errada acerca da forma como vejo a actual situação do nosso país. Para além disso, a minha filha chegou a afirmar que a corrupção e os maus negócios que todos andamos a pagar, são resultado de uma revolução sem sangue (25 de Abril).
Falam que é preciso violência para as coisas mudarem.
O certo é que ainda há pouco tempo, houve uma revolução no Egipto com o sacrifício de  muitas vidas e no entanto a situação em que se encontra agora o povo egípcio é ainda pior. As mulheres que lutaram para fazer valer os seus direitos e que pensaram ir alcançar os seus objectivos, viram os muçulmanos chegar ao poder e são agora alvo de uma maior repressão.
E quem se lembra daquele jovem que em 1994 foi baleado pela policia aquando do buzinão na ponte 25 de Abril e ficou paraplégico?  As portagens continuaram a aumentar e ele é que ficou com a vida lixada. Não ambiciona isso para os meus filhos nem para os meus netos.
Enquanto for possível pressioná-los com manifestações pacificas essa é e será para mim a primeira forma de luta. Ver aquela massa humana unida, faz um membro do governo pensar duas vezes quando se desloca a inaugurações e se torna alvo mais fácil de atingir. Nessas ocasiões é que as pessoas lhes devem fazer frente e se necessário partir para a agressão. Destruir os bens dos outros assalariados como nós que é o que costuma acontecer quando a multidão se descontrola, não me parece justo. A ver, vamos.

domingo, 9 de setembro de 2012

Sofrimento. É bom ou mau?

Cheguei à pouco da missa de 7º dia de duas antigas vizinhas. Faleceram as duas, mãe e filha, num desastre de viação no domingo passado. O filho da mais nova foi criado aqui no prédio e é da idade da minha filha. É um excelente rapaz e resolvi apoiá-lo nestes momentos tão dolorosos. No dia do funeral, ainda não sabia como iria dar a noticia à filha que tem apenas 5 anos. A menina gostava imenso da avó e ficava muitas vezes na sua companhia. Como já passei, 2 vezes por essa situação, aconselhei-o a dar a noticia naturalmente, sem entrar em demasiados pormenores. É preferível contar a verdade às crianças do que tentar enganá-las, sabe-se lá até quando. Tanto os meus filhos, como os meus netos encararam a morte dos avós com uma situação normal. Ao contrário do que pensamos, a morte para eles não tem o mesmo peso negativo, como para nós. Eles não têm noção da real dimensão da perda. Hoje, após a missa, ao falar com ele apercebi-me que a menina reagiu da mesma forma que os meus. Aceitou naturalmente e só não quer é ver os pais tristes. Isso sim, entristece-a. Reflectindo acerca do assunto, apercebo-me que existe em nós um misto de sentimentos que não conseguimos qualificar. Por um lado ficamos contentes por a criança, não sofrer demasiado, mas por outro lado aquela pronta  aceitação deixa-nos a pensar:
- Quanto amor sentirão por nós, avós?
- Será que depois de partirmos, se irão lembrar de nós?
- Sentirão saudades das nossas brincadeiras, dos nossos beijos?
Gostava que as respostas a estas questões, fossem deveras positivas, pois só assim podemos almejar continuarmos vivos para além da morte. Enquanto os familiares e amigos nos recordarem e falarem de nós, continuamos "vivos". Por favor, não se esqueçam de nós.