sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Foi coincidência?

A cada dia que passa, acredito cada vez mais que as coincidências, são acontecimentos que têm o cunho de alguém mais forte que nós. Anteontem, fez três anos que o meu marido, partiu. E digo partiu, porque acredito cada vez mais que continua a existir num outro lugar. Foi um dia muito triste, difícil de gerir, porque como dia de trabalho que era, não consegui ter o tempo de recolhimento que ambicionava. Para além disso, nesse dia, o meu filho e a minha nora comemoraram os quatro anos de casamento e como acontece desde 2011 sou eu que fico com a minha neta, enquanto eles vão jantar fora.
Quando saí do trabalho, para ir buscar a menina, eram 17h 50 m. Uma hora demasiado marcante, pois foi nessa hora que o meu marido deixou este mundo subitamente. Entrei no carro, o rádio ligou automaticamente e de entre as centenas de gravações que tenho num mp3 lá inserido, começou a tocar "Una Lacrima Sul Viso". Não consigo acreditar que seja pura coincidência. Algo ou alguém assim o destinou. As lágrimas rolaram e senti-me transportada  para o passado, dançando essa mesma canção nos seus braços. Um beijo para ti Zé.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Entre o sonho e a realidade

Não sei como se chama o período de tempo, em que não estamos acordados nem a dormir. Sei que antes de despertar estou durante algum tempo, como que num mundo à parte entre o sonho e a realidade. Hoje, quando o meu pensamento ainda deambulava, "vi" a minha familia numa esplanada a comer gelados. Fiz o pedido para todos excepto para o meu marido, pois já não me lembrava qual o gelado de que ele gostava. Uma coisa banal e que tanto me afligiu.
- Qual o gelado que o meu marido gostava?
 Dei voltas e voltas e não me conseguia lembrar. Será escusado dizer que "acordei" indisposta e então lá me lembrei "magnum de amêndoas" da Olá.
E que importância tem isto para mim? Muita. Demasiada. Será que me estou a esquecer dele? A tristeza invadiu-me, as lágrimas afloraram. É que as lembranças, são tudo o que me restam e que me fazem companhia. Quando sonho com ele, o que raramente acontece, fico tão feliz que nem me apetece acordar. Sonhos que me aconchegam e me aquecem a alma. Fecho os olhos e sinto os seus braços a envolver-me. Pena que não seja real.
Força, penso, tens pela frente mais um dia..............

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Saber estar

Iniciei este blog numa altura muito sensível da minha vida. já consegui atravessar a fase mais dolorosa da perda, mas continuo a sentir imensas saudades do meu marido. Para além do companheiro, perdi também o meu maior amigo. Com ele podia falar de todos os assuntos, partilhar ideias e comentar os assuntos do dia-a-dia Sempre senti da parte dos outros uma má interpretação das minhas ideias. Esta semana então tem sido uma "luta" conseguir que me entendam. Digo uma coisa e entendem outra. Não sei se o defeito é meu, mas de tempos em tempos isto acontece. O melhor é deixar passar esta onda negativa e  passar para o computador aquilo que me vai na alma, para a tornar mais leve. Sinto que se não "conversar", rebento. O problema é que não há com quem. Gosto de comentar os filmes, um ou outro programa e os acontecimentos do dia. Hoje por exemplo, foi noticia a luso portuguesa que ganhou a lotaria no Canadá. Não sei avaliar até que ponto estarei errada, mas sinceramente não gostei de a ver saltar e dançar como uma macaca. Como portuguesa, senti-me embaraçada com a atitude dela. Digam o que disserem, muitos dos estrangeiros que assistiram aquela exibição, irão pensar que os portugueses são trogloditas. Num período em que tanto se fala de Portugal e dos portugueses, devemos mostrar ao mundo que somos um povo evoluído e que estamos na CEE por mérito próprio. Fazemos parte da Europa e devemos agir com europeus que somos.

domingo, 16 de dezembro de 2012

O país certo para nascer.

Nestes tempos que correm, passou a ser habitual ver partir para terras longínquas, os nossos jovens, e não só. A crise financeira que assola o nosso país, obriga-os a procurar trabalho nos mais diversos lugares deste mundo. O programa da RTP, "Portugueses no Mundo", mostra-nos as suas vivências e na maioria das vezes, apesar de estarem bem integrados, nota-se a saudade de Portugal.
Ontem, no programa que fizeram de Fortaleza no Brasil, assisto a um pedido de desculpas de uma portuguesa que assume gostar mais de viver no Brasil do que em Portugal. Quando ouvi, pensei de imediato: que pessoa é esta que prefere o estrangeiro à sua terra Natal? Mas, logo de seguida, escutando as suas palavras, percebi que ela é apenas uma das tantas pessoas que nasceram no país errado. A sua maneira de ser e de estar na vida, é consentânea com a dos brasileiros. Não tem de pedir desculpa, tem apenas de ser feliz.
Gosto imenso de viajar, mas também gosto de regressar ao meu cantinho. Considero desde há décadas que nasci no país certo. Gosto do clima temperado, das mudanças de estação, embora já quase não se dê pela primavera ou pelo outono, do respeito pela privacidade do outro, da alegria q.b. (nem frios como os nórdicos, nem sempre alegres como os brasileiros).
Tenho esperança de que iremos encontrar forma de sair desta crise, e quem sabe, aqueles que foram forçados a deixar a sua terra e que dela guardam saudades possam um dia voltar a habitá-lo e  sentir os cheiros, a luz e os sons do nosso país.

domingo, 23 de setembro de 2012

Violência, sim ou não?

15 de Setembro, foi o dia em que o povo português desceu à rua para dizer basta. Basta de corrupção, basta de apertar o cinto e especialmente basta de impostos. Abaixo o aumento da TSU. Quando vi o convite no Facebook, respondi imediatamente que ía.
Falei acerca do assunto com a minha filha, que nesse dia estava fora de Lisboa. Começou por dizer que não era aconselhável eu ir para aqueles ajuntamentos sozinha e que além disso a manifestação não iria resolver nada, pois com certeza iria ser pacifica e para a coisa resultar era necessário haver violência.Não concordei com ela, pois achava que o que era essencial era mostrar aos governantes e ao mundo que os portugueses estavam fartos. Infelizmente, talvez devido aos nervos, a minha tensão arterial subiu e com bastante pena minha, acabei por não comparecer à chamada.
Durante a tarde o meu filho passou por cá com a família e convidou-me para lanchar. Declinei o convite pois estava realmente indisposta, mas como ficou triste, resolvi fazer apenas companhia. Palavra puxa palavra e acabámos a discutir acerca da manifestação. Argumentou que não tinha qualquer importância eu não ter ido, pois a mesma não iria passar de um passeio de sábado na avenida. Eu contrapus dizendo que se a manifestação fosse grande como eu pressentia isso iria pesar e fazer o governo voltar atrás com o aumento na TSU.
Como até ao dia de hoje, nenhum dos meus filhos admitiu que eu tinha razão, pois mesmo sem violência parte dos objectivos foram conseguidos, resolvi puxar o assunto no nosso almoço de domingo.
Não resultou bem.
Armou-se tal discussão que acabaram por sair zangados comigo e com a ideia errada acerca da forma como vejo a actual situação do nosso país. Para além disso, a minha filha chegou a afirmar que a corrupção e os maus negócios que todos andamos a pagar, são resultado de uma revolução sem sangue (25 de Abril).
Falam que é preciso violência para as coisas mudarem.
O certo é que ainda há pouco tempo, houve uma revolução no Egipto com o sacrifício de  muitas vidas e no entanto a situação em que se encontra agora o povo egípcio é ainda pior. As mulheres que lutaram para fazer valer os seus direitos e que pensaram ir alcançar os seus objectivos, viram os muçulmanos chegar ao poder e são agora alvo de uma maior repressão.
E quem se lembra daquele jovem que em 1994 foi baleado pela policia aquando do buzinão na ponte 25 de Abril e ficou paraplégico?  As portagens continuaram a aumentar e ele é que ficou com a vida lixada. Não ambiciona isso para os meus filhos nem para os meus netos.
Enquanto for possível pressioná-los com manifestações pacificas essa é e será para mim a primeira forma de luta. Ver aquela massa humana unida, faz um membro do governo pensar duas vezes quando se desloca a inaugurações e se torna alvo mais fácil de atingir. Nessas ocasiões é que as pessoas lhes devem fazer frente e se necessário partir para a agressão. Destruir os bens dos outros assalariados como nós que é o que costuma acontecer quando a multidão se descontrola, não me parece justo. A ver, vamos.

domingo, 9 de setembro de 2012

Sofrimento. É bom ou mau?

Cheguei à pouco da missa de 7º dia de duas antigas vizinhas. Faleceram as duas, mãe e filha, num desastre de viação no domingo passado. O filho da mais nova foi criado aqui no prédio e é da idade da minha filha. É um excelente rapaz e resolvi apoiá-lo nestes momentos tão dolorosos. No dia do funeral, ainda não sabia como iria dar a noticia à filha que tem apenas 5 anos. A menina gostava imenso da avó e ficava muitas vezes na sua companhia. Como já passei, 2 vezes por essa situação, aconselhei-o a dar a noticia naturalmente, sem entrar em demasiados pormenores. É preferível contar a verdade às crianças do que tentar enganá-las, sabe-se lá até quando. Tanto os meus filhos, como os meus netos encararam a morte dos avós com uma situação normal. Ao contrário do que pensamos, a morte para eles não tem o mesmo peso negativo, como para nós. Eles não têm noção da real dimensão da perda. Hoje, após a missa, ao falar com ele apercebi-me que a menina reagiu da mesma forma que os meus. Aceitou naturalmente e só não quer é ver os pais tristes. Isso sim, entristece-a. Reflectindo acerca do assunto, apercebo-me que existe em nós um misto de sentimentos que não conseguimos qualificar. Por um lado ficamos contentes por a criança, não sofrer demasiado, mas por outro lado aquela pronta  aceitação deixa-nos a pensar:
- Quanto amor sentirão por nós, avós?
- Será que depois de partirmos, se irão lembrar de nós?
- Sentirão saudades das nossas brincadeiras, dos nossos beijos?
Gostava que as respostas a estas questões, fossem deveras positivas, pois só assim podemos almejar continuarmos vivos para além da morte. Enquanto os familiares e amigos nos recordarem e falarem de nós, continuamos "vivos". Por favor, não se esqueçam de nós.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Perfume e não só..............

Nos primeiros tempos em que fiquei sozinha, tive momentos em que apagava a luz, pensando que talvez se o fizesse conseguisse sentir a tua presença. Sim, porque sempre pensei que continuavas comigo aqui em casa. Há quem se desfaça das roupas, dos objectos pessoais daqueles que partem para não se lembrarem deles. Mas a mim as tuas coisas preenchem-me um pouco o vazio que deixaste. Quando a saudade aperta gosto de tocar as tuas roupas, as chaves que trazias sempre contigo e cheirar o teu perfume.
Se o nosso ADN permanece nos objectos, então permaneces neles.
E o espirito será que partiu ou continua a meu lado? Sou daquelas que não tenho a certeza de nada. Será que sim ou será que não?
Lembras-te quando tocavas no trinco da porta para eu subir mais depressa? Fazia-lo muitas vezes quando eu falava com a vizinha  na entrada do prédio. Era um sinal para que eu soubesse que me aguardavas. Até ela já conhecia o gesto e riamo-nos as duas. Certo é, que uns meses após a tua partida, estando eu à conversa  com ela na soleira da porta, o trinco tocou, a porta abriu e ambas ficámos arrepiadas sem saber o que dizer. Até hoje não sei quem terá aberto a porta, neste prédio onde apenas vivem meia dúzia de gatos pingados.
Hoje, foi diferente mas aconteceu no mesmo sitio. Quando cheguei do trabalho, troquei umas palavras com uma vizinha do prédio ao lado e eis quando o cãozito dela se põe a ladrar de nariz no ar olhando fixamente para a nossa varanda. Olhei, olhei e não vi absolutamente nada que pudesse ter despertado a atenção do animal. Será que eras ou será que não eras?